quinta-feira, julho 28, 2005



Fio


No fio da respiração,
rola a minha vida monótona,
rola o peso do meu coração.

Tu não vês o jogo perdendo-se
como as palavras de uma canção.

Passas longe, entre nuvens rápidas,
com tantas estrelas na mão...


- Para que serve o fio trêmulo
em que rola o meu coração?
Cecília Meireles

quarta-feira, julho 27, 2005

"Apetece-me
Flutuar sobre o teu corpo
Pousar no teu peito
Ouvir teu coração
E viver assim:
Embalada pelo teu ritmo cardíaco."

Oxalá possa inventar novamente o amor... um qualquer dia..

terça-feira, julho 26, 2005

Dia de cão

Há dias que são de cão. Dos rafeiros. Tudo acontece às avessas. Tudo dá para o torto. São os dias de cão... desses que andam por aí sem casa, sem rumo...
Espero que amanha seja um dia melhor, normal apenas.
Ando perdida... mergulhada num mar de hipoteses, de esperanças. Ocupada com os meus pensamentos e os meus sonhos... desnorteada por vezes, ou quase sempre...
Hoje foi um dia às avessas desde que acordei com o bater ritmado do martelo no chão da sala. Depois acrescentei a frustação de um dia de férias passado em casa, nos mesmos cantos de sempre. Ao chegar a noite a coisa foi piorando. As forças cósmicas chocaram entre si, o que provocara toda esta conjunctura - diria a Cristina Candeias. Se soubesse nem teria sequer aberto os olhos, ficava a sonhar... apenas... só eu e os meus sonhos... eu e os meus medos...
Só espero que a tal coisa não piore. Não me admirava nada.
Hoje foi um dia de cão. Dos rafeiros. Tenho dito.

segunda-feira, julho 25, 2005

Perdemo-nos um do outro... seguimos desencontrados as nossas vidas... pisamos caminhos já pisados... choramos lágrimas já secas... perdemo-nos no emaranhado da vida... trocamos-lhe as voltas...
Seguimos por essa estrada de terra batida... caímos nas linhas rectas das curvas da solidão... choramos na escuridão de uma noite de luar... esperamos nas horas rápidas de um relógio parado... talvez o amor nos valha novamente um qualquer dia...
De volta ao meu espaço... É tão poder sentar-me aqui e pôr a tocar a minha playlist preferida... Porque é que com tantas músicas paramos sempre para ouvir as mesmas?!... Nesta solidão só a música e as palavras preenchem lugares sempre cheios de nada....
Para ouvir numa noite estrelada ou nao...

"se eu voar sem saber onde vou
se eu andar sem conhecer quem sou
se eu falar e a voz soar com a manhã
eu sei...
se eu beber dessa luz que apaga a noite em mim
e se um dia eu disser que já não quero estar aqui
só Deus sabe o que virá
só Deus sabe o que será
não há outro que conhece tudo o que acontece em mim..." (eu sei - sara tavares)
No outro dia seguiamos de carro. Uma viagem como tantas. Uma conversa como outras tantas. A amizade ali... sempre... por vezes melhor... por vezes pior... como tudo. A memória de uma outra viagem antiga, nesse mesmo carro, na mesma companhia, aquela música. Saudades da inocência desses tempos... saudades desses momentos... e a certeza das gargalhadas futuras, como as de ontem, como as de amanha... ao fechar e ao abrir de um sorriso... amizade... sempre ali... naquela viagem... nesta música:

"If life is a river and your
heart is a boatAnd just like a water baby, baby, born to float,And if life is a wild wind that blows way on high,And your heart is Amelia dying to fly,Heaven knows no frontiers and I've seen heaven in your eyes" - the corrs - no frontiers.

sexta-feira, julho 22, 2005

Rosas



Nunca me ofereças rosas.... principalmente se forem vermelhas... se mas ofereceres eu atar-me-ei a ti com nós que não se desatam.... as minhas mãos emaranhar-se-ão nas tuas... os meus braços abrir-se-ão para os teus... ficarei aprisionada a ti como uma ancora em alto mar...
Por isso, nunca me ofereças rosas... vermelhas... pelo menos se forem muitas... pode até ser só uma... até uma pétala... perdi! Vou buscar as cordas....

A boca

A boca,
onde o fogo

de um verão
muito antigo cintila,
a boca espera
(que pode uma boca esperar senão outra boca?)
espera o ardor do vento
para ser ave e cantar.
Levar-te à boca,
beber a água mais funda do teu ser
se a luz é tanta,
como se pode morrer?

Cecilia Meireles

quinta-feira, julho 21, 2005

Vida





... uma... apenas uma... apaixonada... triste... louca... sã... inocente... pecadora... renovada... antiga... rápida... lenta... inebriante... desgastante... forte... ténue... arrojada... cautelosa... um novelo... um fio... um segundo... tudo se renova... tudo se esgota... a VIDA!...

Falando sobre ti...

Penso em ti, mais do que agora, que a hora passa,
Que a vida corre, que a felicidade ilude.
Penso em ti, e amo-te, pois, melhor fazer não pude
E amar-te somente já é feitiço que não se desfaça!

Paro de pensar em ti, já não escrevo...
Porque não tenho a serenidade das palavras
Vou-me envenenando pelas tuas estradas
Lendo nos teus passos esse segredo...

Mas logo a seguir, o vento sopra, as estrelas falam
E tudo me lembra de ti, nada te esquece...
Grito: Quero asas! Mas ninguém ouve esta prece...

As palavras já gritaram, agora apenas calam...
Já não escrevo poesia, amo o que nunca escrevi,
Vou falando com os meus dedos sobre ti...!

Sol



O sol desponta sobre a encosta dourada,
Os seus braços abrem-se para abraçar o mundo...
Empresta-nos um pouco da sua luz,
Esse sol que chega sem falar
e se esconde sempre mudo...
Sempre distante, sempre próximo...
O mesmo, todos os dias, a cada dia...
Sol que nos aquece, que nos desfalece...

que nos sustenta, que nos inventa...
Oxalá houvesse um novo Sol cada manhã!
Sempre o mesmo, novo... diferente...
o mesmo... longamente, o mesmo...
O sol da novidade... da tradição...
O sol dos dias... sobretudo, das noites...
O sol que se inova... que permanece...
O sol dos dias de chuva... ou dos dias sem sol...
Um Sol novo a cada encosta dourada...
ou negra...
O mesmo mundo... o mesmo sol...
Os mesmos braços...
longos... curtos...
doces... amargos...
brilhantes... baços...
A cada manhã, um sol diferente...
Os mesmos braços a abraçar o mundo...


Palavras


O que não faltam são palavras...
(digo para mim mesma)
Há-as por aí aos montes, às pancadas, enes delas,
não é assim que se diz?!
Estão nos livros, nas paredes, nas cartas de amor...
Estão nas ruas, nas casas, nos transportes...
Estão nas flores... nos segredos...
Sobretudo, estão nos amores...
nesses!... que se vivem calados...
As palavras passeiam-se pelas ruas,
sozinhas ou acompanhadas,
alheias a si mesmas,
livres ou ocupadas,
palavras de amor... palavras de saudade...
O que há por aí são, sobretudo, palavras
soltas, perdidas, ausentes, presentes.
Palavras que se choram...
Palavras que moram no silêncio...
Palavras que se evitam...
Gestos que se emaranham...
Memórias que se atravessam...
Silêncios que se escrevem...
E um Sonho que se tece a cada letra,
a cada palavra descomprometida,
a cada rasgo de tinta num coração em branco,
a cada lágrima que naufraga como caravela de saudade...

quarta-feira, julho 20, 2005

Memória

Desceste-me pela memória...
Vinhas cheio de pressa"
Roubaste-me uns momentos
E regressaste ao silêncio.
Não devias assaltar-me assim...
Mas quando puderes volta!
Volta que estou cheia de pressa
De me lembrar de ti outra vez!...