Gosto de amar. Muito.

Gosto muito de amar. Amar muito. Nunca pouco porque não é possível amar-se pouco, ama-se e pronto. Amo quase a tudo e a propósito de nada porque amar faz-nos melhores. Mais intensos. O amor torna-nos mais humanos, mais doces, mais sinceros. Faz-nos bem. Imensamente.
Gosto de amar os sorrisos. Ainda mais os abraços. Amor pelos amigos, pela família, pelas pessoas especiais que nos roubam pedaços de coração sem nunca os devolverem. São bocados de nós que entregamos em cada amor. Novo ou antigo. Arrebatador ou calmo. Doce ou amargo. Profundo. Infinito enquanto existe. Para sempre efémero.
Amo as coisas simples. Pormenores, dizem. Mas são estes pequenos rastos de gestos... sopros de palavras... que nos fazem sorrir. Não a imensa rotina da vida, mas o inesperado. Por vezes é o descarrilamento da carruagem que nos salva. É a dor que nos acode para nos libertar, qual espécie de salvação. E é aí, quando menos amamos a vida, que nos agarramos sofregamente a algo que amar. As primeiras gotas de chuva ou os últimos raios de sol. É o amor que restitui a melodia dos gestos... da surpresa...
Gosto muito de amar. Demorar os meus olhos no mar, nas nuvens, nas estrelas.
Sonhar...
Amo o som dos passos que se aproximam. O silêncio imenso, profundo, como se fosse possível não o ser. Música. Demorar-me no silêncio e quebrá-lo com a minha memória. O amor pelas lembranças, as boas. Tudo o que amamos no passado será sempre um amor do futuro, esse sim eterno. Amo a sobriedade da minha almofada. Sempre discreta, atenta, conselheira. Sabe tão bem demorar-me nos seus braços num sono demorado...
Amar muito. De várias formas. Diferentes amores. De preferência, que comece em nós esse amor.
Por vezes é preciso coragem para nos amarmos... É mais fácil encontrar nos outros motivos de amor.
Por vezes apetece-nos dar colo quando nós próprios desejamos esse regaço.
Por vezes só quando amamos somos capazes de nos amar. Ficamos orgulhosos. Mas nem sempre. O amor invade-nos e arrasa-nos, como uma tragédia. Sonhos erguidos em momentos de areia. Frágeis. O amor corrompe-nos da melhor forma. Ocupa-se da nossa alma para a dilatar. Por isso é tão dificil recuar. Nunca mais é possível. Instalado esse vírus já não há nada a fazer, apenas esperar pelo fim na esperança de que esse dia nunca chegue, ou então que seja amanha. Extremos. O amor é assim. Escondido algures entre a raíz e as pontas dos teus cabelos... entre os teus olhos e a tua alma... Amor.

Amar. Sempre. Espero...